Recordações

Não sei bem como explicar, de dia as coisas parecem bem. Na verdade as coisas realmente passam para, no minimo, suportáveis. Brincadeiras de lá, piadinhas de cá, um assunto puxa o outro, uma caminhada pra respirar o ar puro, me livrar dos males e ouvir uma música que me deixe fora do ar por algum tempo. Sempre no volume máximo, sempre tentando me desligar da realidade. Eu vou assim, tentando fugir, escapar dessa mesmice, que anda acabando comigo. Mas e então chega a noite, as coisas se acalmam lá fora, em casa, o barulho da chaleira no fogão consegue me fazer lembrar você. É quase instantâneo, a noite cai, as lembranças chegam, com o vento. Ou a brisa. É assim, as vezes elas vem suave, como pequenas recordações que seriam facilmente esquecidas depois de um tempo. Simples. Mas as vezes elas vem com tudo, elas atropelam, derrubam e fazem doer. “Por que isso?” repito pra mim mesmo. O frio abre a madrugada, e enrolada no cobertor ainda penso em você, não tem como não pensar. Eu penso em você como o a música traz a melodia, como o rítimo traz a batida, ou ao contrário, não sei. Pra mim somos apenas nós dois, sempre foi. Vai continuar sendo - respirei fundo mais uma vez, contendo as lágrimas. Mas era impossível, o moletom que você me dera de Natal era o que eu podia afirmar fazer sentido, ele me trazia você de volta, aqui perto de mim, conseguia te sentir. Ainda vejo nossas fotos, ainda sinto seu perfume em minhas roupas, ainda procuro seus sapatos em baixo da cama. “Nada”. Você não chega, você não vem amenizar a dor. Mas continuo esperando, quando quiser aparecer sabe onde encontrar - esfreguei os olhos inchados com a manga do moletom - espero que venha logo.
 Maria Clara, devolve-me.